Saturday, February 6, 2016

O Diabo revisitado

Olá a todos os meus(inhas) queridos(as) leitores(as) que acompanham esse escritor amador, mas que buscam aqui algumas palavras de sabedoria e, quiçá, conforto. Hoje, trataremos de um tema que não poderemos escapar caso queiramos compreender, verdadeiramente, mais de nós mesmos e do mundo em que habitamos. Para ser bem honesto, vamos revisitá-lo, pois esse texto já foi publicado aqui antes, mas foi cuidadosamente submetido a uma curadoria com melhores energias, afinal, o trabalho por si só já é por demasiado denso, será obrigatório de nossa parte fazer a lição de casa. Antes de avançar, meus(inhas) amados(as), por favor, acalmem seus corações e sigam com o melhor da luz de vocês, pois que até Dante recebeu ajuda de Virgílio para atravessar o inferno.
Há um bom tempo que estive em conexão ímpar com energias sexuais e movimentos da Grande Deusa, um pouco de meu passado Wiccano chamou-me mais fortemente a voltar minhas energias da tríade corpo, mente e espírito em algo mais profano, apenas me restava saber o que haveria de tão profano a ser lançado luz (para descer ao inferno é preciso vibrar como o inferno).
As energias sexuais e os rituais de Hécate me apontavam o caminho rumo ao Demônio (demon = espírito, entidade neutra sem caráter negativo ou positivo), o anjo caído chamava com toda sua luz para uma compreensão maior daquilo que tanto ignoramos e, sobretudo, pouco conhecemos. Compreendamos, primeiro, que ignoramos por razões histórico-sociais as quais nossa cultura atual é construída, pouco conhecemos por reflexo de nosso menosprezo a tal interação profunda. Bom se faz notar, aqui, que muito de nosso medo é fundamentado em nosso real senso de sobrevivência, um mecanismo justo atribuído a nós pelos mecanismos divinos da vida, não podemos nos destruir, criaturas imortais, portanto, frenam-se no medo da destruição, visto que descer ao inferno de nós mesmos é similar a nossa auto-destruição tão temida (por favor, notem aqui o jogo de ilusões, tenham cuidado, estamos falando de coisas perigosas, há muita ilusão em jogo e muitos mecanismos de sabotagem do subconsciente).
Há algo que precisamos conhecer um pouco mais de nós mesmos, trata-se esse algo da imagem da Arcana Maior de número XV, falamos da carta "O Diabo." Mas antes que possamos tratar com mais seriedade dos assuntos que quero abordar, eu gostaria de recomendar alguns livros para leitura e aprofundamento na presente Arcana Maior, são dois: "The Fool's Jorney - A journey to Wisdom: how to become an insightful tarot reader" e outro chamado "The way of Tarot - The spiritual teacher in the Cards," mas transcreverei um trecho do primeiro livro que citei acerca da carta que analisamos hoje:
"Lição: quando nós percebemos a energia negativa dentro de nós e estamos prontos para confrontá-la sem compromissos, nós podemos vencer o Demônio, o qual aparece em nossa psique como os medos internos, inibições e crenças limitantes. Então, nós não precisamos encontrar o Demônio em nossa vida, pois nós fizemos o nosso trabalho interior. A escolha de se tornar livre das correntes do Demônio está em nossas mãos."
Pronto, agora que você já leu esse trecho e já sabe onde procurar por mais informações vou recomendar uma música para que você possa se sintonizar na energia que estou trabalhando agora, a música chama-se The Voyage (ironicamente cantada por um grupo super católico que eu estou amando ouvir). Caso queira, ouça a música e busque a letra aqui. Peço profunda desculpa para os não falantes do inglês, qualquer coisa tente usar o google tradutor, talvez ajude, mas se precisar de uma ajuda maior entre em contato comigo que eu mandarei a letra traduzida para o português com todo o carinho (meu email: manoelvfb@gmail.com).
Agora vamos às explicações. De quais forças estamos falando? Estamos falando das forças materiais, as energias pulsantes do chacra básico, um dos veículos de manifestação de nossos sentimentos materiais na dualidade em que vivemos, um dos mecanismos de suporte de sublimação de energias sexuais. Também falamos do coração, na figura do chacra cardíaco, o qual compreende a região onde os duetos amor e medo, morte e vida, luz e sombras se manifestam profundamente. Há uma grande associação feliz que fazemos com a figura do coração, mas ignoramos completamente os sentimentos mais sombrios que nele residem e, portanto, sabermos sintonizar com esses sentimentos é um passo importante para compreendermos um pouco mais de nós mesmos.
Com essa experiência podemos, inclusive, compreender um pouco mais da sagrada lição espiritual do Tarot com respeito à Arcana Maior O Diabo. Para melhor visualizarmos essa Arcana, vou deixar aqui duas imagens Dela, a saber, a primeira (à esquerda) pertencente ao baralho de Marseille e a segunda (à direita) ao de Waite. Seria interessante que vocês pudessem prestar atenção na imagem de cada carta, admirar ambas, sem medo, compreendendo que essas são criaturas tão divinas quanto o próprio criador. Afinal, se tudo advém da criação, até mesmo as sombras, as trevas, o inferno, são produtos da criação para a mesma causa, a causa final, a regra, isto é, a lei, tudo à perfeição, consulte o capítulo 6 em "O Livro dos Espíritos" aqui.


Observemos, primeiro, a carta de Marseille. Perceba que a figura do diabo possui pares de olhos na cabeça, nos peitos, na barriga e nos joelhos, tal se deve para que possamos melhor ver e encarar os medos. Também podemos perceber que há quatro faces, um para cada par de olhos, distribuídos ao longo do corpo do diabo sendo que três desses rostos colocam a língua para fora designando, assim, a vasta extensão do poder criativo e sexual do diabo. Caso haja dificuldades para perceber, o pênis assume aqui a figura de uma língua cujo rosto é completo com os órgãos sexuais femininos (peitos com olhos), o que deixa explícito a ideia de que a dualidade de gênero assume uma unidade hermafrodita em mensagem clara do poder sexual e material do diabo (válido para ambos os sexos, uma vez que o espírito não possui sexo e anima a ambos).
Observemos, igualmente, que o corpo do diabo é azul, significando aqui a característica espiritual do diabo e sua simbologia mental, tratando-se portanto de uma entidade de caráter predominantemente divino. A divindade é coroada com chifres e, essa divindade, coroa outros seres indicando a ligação passional profunda nas criaturas encarnadas e presas aos ditames mais primitivos da matéria, observe que as duas criaturas abaixo estão presas por uma corda no pescoço.
É bom observar que a corda (ou corrente) que prende as figuras humanas, logo abaixo do púlpito em que se encontra o diabo (o diabo é aqui um ser divino, por isso em um púlpito), estão presas pelo pescoço, indicando assim que a manifestação da verdadeira identidade dessas criaturas é recriminada, sufocada e aprisionada sem a licença da real manifestação da luz divina deles mesmos, um problema sério que vai contra as leis divinas como exposto pelo professor Rivail no livro "O Livro dos Espíritos" capítulo 10 aqui.
De maneira geral podemos compreender esse aparente cenário dantesco com os seguintes dizeres do próprio diabo (extraído de "The way of Tarot - The spiritual teacher in the Cards"):
“Eu acendo a tocha que traz ordem às trevas. Em uma escada de obsedianas eu crio o meu caminho aos pés do criador para apresentá-lo o poder da transformação como uma oferenda. Sim: depois da impermanência divina eu luto para congelar os instintos, para fixar em um canto como uma escultura fluorescente. Eu ilumino com minha consciência e agarro isso, até que isso queime em um novo trabalho divino, o universo infinito um labirinto infinito que escorre por entre minhas garras, uma caça que escapa por entre meus dentes, traços que desaparecem como um súbito perfume.
“E aqui eu permaneço, tentando segundo após segundo parar o fluxo do tempo. Assim é o inferno: amor absoluto versus o trabalho divino que se vai. Ele [Deus] é o artista-invisível, impensável, intangível, intocável. Eu [O Diabo], eu sou outro artista: fixo, invariável, obscuro, opaco, denso, uma tocha que queima eternamente com fogo imóvel. Sou eu quem deseja engolir a eternidade, essa glória imponderável, agarrando isso ao centro de minha barriga e gerando isso tal como o pântano que se constroi de pedaços para que emerja uma haste em cujo fim se abre a flor de lótus, na qual o diamante está brilhando. Assim, dilacerando minhas entranhas, eu quero ser a suprema Virgem que origina Deus e agarra-O em uma cruz, só então ele permanecerá para a eternidade aqui comigo, sempre, nunca mudando, permanente permanência.”
Observe bem meus(inhas) amados(as) leitores(as) que o diabo figura aqui aquele que gera ordem mesmo no inferno, aquele quem promoverá a reorganização de um estado de absoluto sofrimento e estagnação a um estado de ordem e movimento. Portanto, como nos textos indicados que vocês poderão ler, vocês poderão perceber o caráter divino do diabo, sendo ele uma parte do uno que foi dualizado.
A encarnação nos confere aqui, portanto, nossa conexão abrasiva e curadora com as nossas trevas, nossas inclinações criativas e sexuais, isto é, nossa interação mais direta e sólida com aquilo que é parte de nós e que, no entanto, não deve ser negado, ignorado ou temido, mas sim deve ser tratado com todo o cuidado e devido respeito. É preciso compreender aqui que não tratamos de uma apologia ou uma escusa à ação funesta e maligna, mas sim um movimento de aceitação e cura em um abraço cósmico e maravilhoso entre aquilo que compreendemos por luz e sombras (ainda que ilusões, essas são tão reais quanto a verdade da ilusão, fique atento às sabotagens mentais).
Agora, para que não delonguemos mais nosso texto, recomendo que você revise um texto que fará a leitura da carta segundo a visão de Waite, aqui, esse foi meu trabalho há alguns anos atrás.
Pronto meus(inhas) amados(as), creio que consegui chegar ao meu objetivo, o trabalho de curadoria do texto. Espero que vocês possam absorver um pouco mais adequadamente o que foi escrito, afinal, a palavra não é suficiente, precisamos de muitos mais recursos que, por hora, carecemos de compreensão. Sigam em paz meus(inhas) amados(as), saibam sempre que com o dever de casa feito, ascendemos.