Wednesday, August 27, 2014

Lembrar

Olá meus queridos tupiniquins, aqui vai mais um texto de uma série de três, o último sairá conforme forem as condições superiores. O texto é simples, colocado em uma linguagem distante da própria origem, mas essa foi a forma com que consegui traduzir a mensagem recebida dentro de minhas próprias limitações. Em síntese, o texto apenas responde ao primeiro ato de "Admitir", quando já "admitimos", então, poderemos "Lembrar". Primeiro foi preciso "Admitir" a própria condição e natureza, a humana e a divina, formas duais de um mesmo uno. Agora, é preciso "Lembrar", isto é, rememorar a própria lei una. Lembrar daquilo que foi traduzido por harmonia. Essa harmonia é o fenômeno do equilíbrio, famigerada lei do carma.

Lembrar que as dores que lhe foram infligidas hoje, antes, foram infligidas por suas próprias mãos.
Lembrar que os julgamentos que lhe fazem hoje, antes, foram julgamentos seus.
Lembrar que os sofrimentos que experiencia hoje, antes, foram sofrimentos causados aos outros.
Lembrar que os amores do hoje, antes, foram os amores do ontem.
Lembrar que os amigos e inimigos do hoje, antes, foram os mesmos amigos e inimigos do ontem.
Lembrar que as cores do agora, antes, foram as mesmas cores do cenário do ontem.
Lembrar que as suas lágrimas do hoje, antes, foram as lágrimas dos outros.
Lembrar que mesmo as alegrias do hoje, antes, foram as alegrias do ontem.
Lembrar que o ontem está tão presente no hoje quanto o próprio agora no amanhã.
Lembrar que as razões são conectadas e que, portanto, a humildade ser-lhe-á companheira de mãos dadas com a paciência e a resignação, pois, lembrar que a própria vida do agora é reflexo de todas as ações do ontem é entender o sentido de resignar, resigna-se com a humildade de um aprendiz e a paciência de um trabalhador.
Lembrar que a humildade é fundamental para que se reconheça os próprios erros, que a paciência é essencial para a labuta da corrigenda íntima e que resignação é o amálgama da alegria de rir enquanto se percebe aprendiz.

Tuesday, August 19, 2014

Admitir

Olá caros tupiniquins, eis um pequeno texto que me veio em mente tão rápido quanto se foi. Meu grande problema é que os textos aparecem em minha tela mental simplesmente, sem aviso prévio, sem qualquer sinal, eles vêm completos, prontos, perfeitos, mas nem sempre consigo tempo o suficiente para pegá-los e transcrevê-los e, no geral, o que tenho é um jogo de palavras, muitas vezes sem sentido algum, algumas vezes consigo concatenar as ideias e dar algum sentido ao texto. Enfim, por um instante em minhas rápidas higienes mentais eu havia me feito a pergunta sobre o motivo de minha tristeza interior e, tão rápido quanto fora minha pergunta, o texto abaixo veio-me como resposta:

Admitir que você é humano, portanto divino.
Admitir que você possui o potencial para crescer, portanto portador dos recursos para isso.
Admitir que você pode se perdoar, da mesma forma que você se culpou.
Admitir que você nunca será entendido até que se entenda, pois aquele que trabalha na confusão de si mesmo nunca será entendido.
Admitir, por isso, que todos os julgamentos que fizeram de você não foram verdadeiros.
Admitir que você não é um monstro que julgaram que fosse.
Admitir que você não é nada do que lhe disseram.
Admitir que você pode se desprender das mágoas e ofensas, pois elas estão em você tanto quanto você as deseja.
Admitir que você é para o outro não mais do que o outro é para ele mesmo, portanto se lhe intitularam arrogante era, pois, que seus intituladores eram arrogantes.
Admitir que você vê o outro não mais do que você vê a si mesmo, portanto se você condena alguém é, pois, que condena a si mesmo.
Admitir que você foi julgado por outros que, igualmente, julgavam-se.
Admitir que você foi amado por outros que, igualmente, amavam-se.
Admitir que você foi odiado por outros que, igualmente, odiavam-se.
Admitir que você errou com outros que, igualmente, erraram.
Admitir que você não é culpado de algo, mas que dentro das circunstâncias todos os envolvidos foram responsáveis.
Admitir que você não é mais importante que outro, mas iguais.
Admitir que você pode aprender pelos próprios erros, não se demore olhando com dor tudo o que já fez, olhe, sim, com ternura para os próprios erros buscando neles as lições que você poderia aprender.
Admitir que você estará sozinho sempre, portanto se dê o tempo para conhecer a si mesmo, não busque fugas para as próprias angústias.
Admitir que você terá muito trabalho sempre, portanto dê o melhor de si mesmo para cumprir com dignidade o trabalho sem nunca se glorificar por isso.
Admitir que você pode ser você mesmo.

Saturday, August 16, 2014

Os desejos profundos e a verdade do ser

Reza um conto antigo que em uma floresta um urso feroz perseguia um coelho. O coelho desesperado corria para salvar-se do imenso urso. O urso igualmente corria mais e mais rápido a medida que o coelho acelerava, o urso gritava e esbravejava para o coelho e dizia:
__ Vou lhe pegar seu coelho aaaarrrrgggg!
Em certo ponto da gritaria um sapo mágico apareceu na frente do coelho e do urso dizendo com a voz profunda e grave:
__ Paaaremm! Paaaremm! Paaaremm que agora vou realizar três desejos de cada um de vocês.
O assustado coelho e o enfurecido urso então cessam a gritaria e olham para o estranho sapo vestido como um mago. O urso então esbraveja:
__ E quem é você?
O sapo responde:
__ Eu sou um sapo mago, vim aqui para conceder três desejos para você Urso e para você Coelho.
__ Vou começar por você Urso, o que você gostaria?
O urso então diz fanfarrão:
__ Eu, argh, eu quero que todos os ursos dessa floresta se transformem em ursas!
O sapo respondeu:
__ Seu desejo está concedido. Feito. E você Coelho, o que gostaria?
O coelho assustado e gaguejando respondeu:
__ Eu, eu, e-e-eu... e-e-eu go-go-gosta-ta-taria de-de-de u-u-u-uma mo-mo-mo-motoca.
O urso então se pôs a rir:
__ HA-HA-HA-HA-HA-HA uma motoca? Mas o que esse coelho quer com uma motoca?
O sapo então diz:
__ Seu desejo está concedido Coelho. Agora sua vez Urso. Qual seu segundo pedido?
O urso responde:
__ Eu quero que todos os ursos do país se transformem em ursas! HAHAHAHAHAHAHAHAHA.
E, assim, o sapo fala:
__ Seu desejo está concedido. Agora sua vez Coelho, qual seu segundo pedido?
O coelho, então, olha para a pequena motoca no qual já está sentado e admira a si mesmo e diz mais calmamente sem gaguejar:
__ Bom, agora eu tenho uma motoca, então eu preciso de um capacete. Eu gostaria de um capacete, sim?
O sapo, graciosamente, estende as mãos ao alto e diz com a voz grave e forte:
__ Seu desejo está realizado. E agora é seu último pedido Urso. Qual o seu terceiro pedido?
O urso fanfarrão olha para o coelho e responde:
__ Esse coelho é um babaca, três pedidos para serem feitos e me gastam dois com uma motoca e um capacete? HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA, quanta porcaria. Escuta aqui seu Sapo Mago, eu quero que todos os ursos do planeta se transformem em Ursas! Assim eu serei o único urso macho do mundo!
O sapo, prontamente, afirma:
__ Seu pedido foi realizado. Agora, qual seu último pedido Coelho?
O coelho, então, balbucia consigo mesmo:
__ Bom, eu já tenho uma motoca e já tenho um capacete...
Por fim, preparando-se para correr o mais rápido que podia na moto que já estava roncando o coelho, rapidamente, olha para o urso que se ria e diz:
__ Quero que esse urso seja uma maricona!!!
E assim o coelho sai em disparada e o sapo concede o pedido.

Lição:

Em uma abordagem sucinta, o último desejo do Coelho, colocou para fora o que era o verdadeiro desejo do Urso. Ser homossexual era o verdadeiro desejo do Urso, mas o desejo reprimido fez com que o Urso temesse as próprias vontades fazendo que se cercasse daquilo de que não gostava profundamente, as ursas. Essa tentativa inglória de provar-se macho foi o grande fracasso de nosso personagem. Assim são os seres humanos, muitos exibem com brutalidade o que temem, afirmando estarem certos do que são, mas são vítimas das próprias ilusões, em especial a ilusão do próprio amor.
Muitas pessoas são como o Urso, agem brutalmente e se cercam de situações que as colocam em um teste desesperado de provação, em uma busca de afirmação e aceitação constante de uma imagem que nada condiz com o que as pessoas realmente têm no coração e no profundo de si mesmas.
A vida seria a mágica, o Sapo Mago que nos concede os desejos sem nos questionar, pois somos nós os autores da própria vida. Mas a mágica não é unidirecional, não somos nós os únicos criadores, os outros também são criadores e autores da realidade que os cercam.
O Coelho é o outro que toca a realidade que vivemos. O Coelho também é um autor, um criador que se utilizada do mesmo Sapo Mago, isto é, da mesma vida que nós também utilizamos. O outro, então, nos ajuda a perceber o que realmente somos.

Sunday, August 3, 2014

Lições Sertanejas

Não muito por acaso reencontrei uma velha música que me foi um presente de alguém muito querido. Há pouco mais de um quinquênio tive contato com as letras incríveis de Almir Sater, mas em especial a música Tocando em Frente deixou em mim um registro profundo das lições mais simples e belas da vida, essas que gostaria de compartilhar aqui.
Obviamente a música é muito conhecida através da maravilhosa voz de Maria Bethânia a qual deixo aqui, também, como uma pequena introdução:


Mas após apreciar ou deleitar-se com a canção gostaria de dedicar pequeno tempo para revisão das palavras melodiosamente colocadas. Para tal deixo a letra da música abaixo:

Tocando em Frente

Ando devagar
Porque já tive pressa
E levo esse sorriso
Porque já chorei demais

Hoje me sinto mais forte
Mais feliz, quem sabe
Só levo a certeza
De que muito pouco sei
Ou nada sei

Conhecer as manhas
E as manhãs
O sabor das massas
E das maçãs

É preciso amor
Pra poder pulsar
É preciso paz pra poder sorrir
É preciso a chuva para florir

Penso que cumprir a vida
Seja simplesmente
Compreender a marcha
E ir tocando em frente

Como um velho boiadeiro
Levando a boiada
Eu vou tocando os dias
Pela longa estrada, eu vou
Estrada eu sou

Conhecer as manhas
E as manhãs
O sabor das massas
E das maçãs

É preciso amor
Pra poder pulsar
É preciso paz pra poder sorrir
É preciso a chuva para florir

Todo mundo ama um dia
Todo mundo chora
Um dia a gente chega
E no outro vai embora

Cada um de nós compõe a sua história
Cada ser em si
Carrega o dom de ser capaz
E ser feliz

Conhecer as manhas
E as manhãs
O sabor das massas
E das maçãs

É preciso amor
Pra poder pulsar
É preciso paz pra poder sorrir
É preciso a chuva para florir

Ando devagar
Porque já tive pressa
E levo esse sorriso
Porque já chorei demais

Cada um de nós compõe a sua história
Cada ser em si
Carrega o dom de ser capaz
E ser feliz

Almir Sater & Renato Teixeira

Preciso agora dizer que minha perspectiva de análise se dará dentro de meu arcabouço de conhecimento espiritual, religioso, filosófico, científico, emocional, psicológico e que, portanto, não estou isento de falhas e má interpretações. Todavia, darei o melhor de mim. Comecemos?

Nosso sorriso e caminhar é fruto de nossa volumosa experiência de vida, essa mesma que se deu pelo aprendizado do sofrimento e das dores, dos rangeres de dentes e das angústias, toda sorte de tristeza que nos fez chorar demasiadamente.
Nossa condição atual, mais feliz, deu-se pelo que já passamos, legando-nos a lição maior da humildade, pois nossos sofrimentos e lágrimas foram as marcas de nossa arrogância, essa mesma que se desfaz ao reconhecermos que pouco ou nada sabemos, apesar de conhecermos os meios e os momentos certos e sabermos mensurar e divisar as qualidades das situações.
Na vida o fluxo dá-se através de amor e a felicidade verdadeira é possível quando os conflitos de toda ordem estão sanados, mas tais conflitos são necessários, pois entre meio a penumbra da tempestade é que nasce o anseio pelo aprendizado do cultivo de paz.
Percebe-se que viver, então, é notar esse fluxo, que naturalmente empurra-nos no sentido de nossas necessidades de aprendizado. Portanto, humildemente e sem muito contestar, vamos pelo caminho que nos é indicado, esse caminho que tão imenso é, mas que se revela a nossa própria construção.
Assim passamos pela lição do desapego experimentado pelas tantas vivências, sofrimentos correntes que como ondas vêm e vão. Todavia, é preciso lembrar que não podemos nos abandonar em ciclos viciosos da vida, o constante ir e vir das ondas mas lembrar que somos os arquitetos da própria vida e que temos a plena capacidade de construir a felicidade.
Enfim, está acima minha rápida interpretação, deixo-lhes agora a versão original cantada pelo Almir Sater: