Friday, April 17, 2015

Sem nexo

Hoje bateu saudade. Bateu saudade de descer à Terra. Bateu saudade de caminhar nas ruas, bateu saudade daquela voz e daquelas risadas. Hoje bateu saudade e foi batendo. Bateu saudade de tanta coisa que já não se tem mais o que sentir. Saudade. Para quê? O feixe de luz que se desviou deixando assim um caminho maior a ser feito, mas com o menor gasto de energia. De fato, a ciência engatinha lentamente para o que já sabiam as bruxas.
Hoje bateu saudade, saudade. Saudade de ouvir aquele aviador, saudade de ver aquela raposa. Saudade, saudade daquelas conversas, saudade dela. Mas saudade deles também. Saudade das risadas, mas eram risadas verdadeiras? Talvez não, talvez fossem apenas risadas pueris de crianças de um dado tempo, num dado momento da vida delas.
Hoje bateu saudades e olha, não é incrível, estou no lugar de sempre. Não poderia ser mais gratificante olhar para trás e ver que foi feito, sim, uma história, ainda que simples era a minha história. História de pobreza e simplicidade, história de muitas brigas e risadas. História, minha história que não faço questão que saibam, que entendam ou que percebam, pois é tão minha e tantos são os fantasmas, muitos dos quais grudam em nós até hoje.
Olhando para trás, bateu saudade, bateu saudade daquela chuva, daqueles dias frios, daquelas noites longas, daquele xadrez, daquele chá, daquele leite achocolatado, daquele açúcar no final do pote. Saudade, bateu sim, saudade de muitas coisas. Seguindo como sempre ela mesma, sempre a mesma energia de bruxa, sempre as mesmas visões, sempre as mesmas faculdades.
Olhando mais para trás, não há saudade, não há nada além de desespero que ora se findou. Olhe para trás, o que há? Há muito, há nada, há tudo o que um cérebro pode registrar e um infinito que uma mente pode arquivar. Registro não é arquivo e arquivo não é registro, pois registro se apaga e arquivo governa. Equivocado, não? Imagina, são apenas palavras, não fazem sentido algum exceto aquele que damos para elas.
Palavras, saudades, sentimentos, e pouco, mas muito pouco de racional. Quando vão entender? Não conseguem, não conseguem nem pedindo por amor a Deus. Não conseguem, acham-me demasiado racional quando, em verdade, sempre fui a coisa mais emocional que andou nesse planeta.
Enfim, saudades, saudades de voltar à Terra, de voltar e olhar, cheirar, sentir. Saudades, não, não é mais saudades, agora é outra coisa pois já se foi, no início era, mas o segundo anterior já é passado e o passado embora registrado não foi arquivado, é passado, se apagou, entende? O agora é agora e no agora não é saudade, agora eu vejo como outra coisa. São memórias, as quais não me inspiram nada além de gratidão.
E por fim, tudo vai terminar nisso, gratidão, olha que coisa. Nada além de gratidão, simples e honesta gratidão. Obrigado por caminharem comigo.