Pois que
estava em tarde insólita inquieto. Procurando por uma razão desconhecida até
que Marselha interroga-me: “Por que não me estudas? Por que não fizeste comigo
o mesmo que fazeis com teus estudos normais?”. Marselha novamente se impõe e
vejo-me reduzido a tal processo que nada seria realmente mitigador além de
dedicar um tempo ao estudo de Marselha.
Mais uma
vez estava lá, eu, jovem tupiniquin das terras de Pindorama, revendo os velhos
e tão engessados conceitos do velho mundo. Sem no entanto sentir de fato o que
realmente faltava. A mente pululada por pensamentos questionadores da realidade
de tal nobre sabedoria tão ordenadamente escrita em uma língua que não a minha
materna leveza indígena, a mesma leveza da sabedoria de comunidade.
Eis que um
dos pensamentos barram-me fortemente indicando: “Observastes a razão disso?
Quando criança dedicastes algum tempo a esse estudo?” Outras perguntas surgiram
indicando sincera reflexão de questões que uma vez violaram minha sanidade e
felicidade.
Em calmo
momento pensei: “Essa busca pela ferramenta do oráculo, essa ânsia, é apenas
uma tradução da real necessidade e do real vazio que experimento da
espiritualidade.” E como uma culpa que não condena, mas acolhe com calma,
deixei-me entender que a busca por Marselha não chegara ao fim, que tal
instrumento poderia sim aplicar-se de maneira sábia, sem no entanto ignorar o
velho conhecimento por detrás da língua dos brancos.
Sem ouvir o
canto de meu amado Urutau, distante do amoroso aroma de meus Manacás, saudoso
do Maracujá em flor, distante daquela que era a terra prometida do lobo guará,
absolutamente perdido e deixando-se perder na terra de clima frio e sem aromas.
Essa foi a imagem que tive de mim, o jovem tupiniquin que revive as velhas
memórias do velho mundo naquilo que seria o novo mundo dos velhos.
Pois que
algo de estranho finalmente aconteceu. O vento trouxe consigo diferentes notas,
mensagens novas são agora percebidas, sem no entanto dizer que elas nunca
estiveram ali. O vento trouxe consigo Marselha, Marselha trouxe-me a doce
oportunidade da reflexão, a mesma pela qual o vento insuflou ao menor sinal das
diferentes ideias que desabrocharam.
“E então
jovem tupiniquin? O que irás fazer?” Perguntou-me ao final Marselha. Sem uma
resposta certa, mas com a natural orientação da bússola que aponta o caminho do
coração, com a gloriosa mensagem da alma que nos diz natural e docemente, sem
nos contestar ou condenar, seguirei o caminho que já deveria ter sido trilhado
outrora.
E agora o
que resta? Marselha se cala, como aquele que a desnudou deixando-a em completo
silêncio, mas em verdade não há medo, não há vergonha, não há raiva, não há
qualquer brisa repulsiva. O que há no momento seria uma profunda troca de
olhares. Marselha, olha-me como olho aos demais. O jovem tupiniquin que traz em
si o escorpião do velho mundo, revivendo no novo mundo dos velhos novos...