Thursday, December 29, 2016

Tiragem Triangular

Olá meus(inhas) queridos(as), quanto tempo, não? Há quase um ano que não apareço nesse querido e abandonado blog. Mas cá estou, recuperando-me. O ano de 2016 (2+0+1+6=9) foi marcadamente um ano de crises e sabemos que crises são marcadas por mudanças, as quais podem ser construtivas ou destrutivas. Há quem diga que para mudar é preciso destruir, para que algo exista é preciso que outro algo deixe de existir, mas essa não é bem a filosofia que eu queria expor aqui, embora poderíamos entrar nela com riqueza de detalhes em outro momento. Hoje, quero deixar aqui mais uma peça de meu Tarot cotidiano. Uma leitura que me pedi e que pudesse ser exposta para todos, com o objetivo único de servir como aprendizado, tanto para mim quanto para qualquer outro curioso que esteja disposto a trabalhar o caminho do autoconhecimento.
Antes de mais nada, preciso me desculpar por qualquer eventual má colocação de minhas palavras, tendo em vista que ando muito desconectado do universo das palavras e das boas energias. Encarando o mundo como uma criatura imortal, ainda presa na matéria, com a visão ofuscada e com alguns resquícios de percepção que foram duramente conquistados pela caminhada da vida, cá estou para apenas compartilhar um pouco do que sei, o muito pouco do que acredito ter compreendido, sem com isso impor como sabedoria única e verdade absoluta, mas humildemente aberto para críticas.
Hoje, portanto, optei por fazer a abertura que está exposta abaixo. Ela veio por meio da inspiração em meu aniversário deste ano e ficou guardada até agora. A memória não é boa para aquilo que vem de outras vidas, portanto, posso dizer apenas que a jogada (a qual provavelmente deve ser conhecida e bem estudada por profissionais) se faz como um triângulo cuja ponta indica o objetivo (ou destino) da ação de duas forças: material e espiritual. A força (ou caminho) espiritual é descrito do lado esquerdo, já o material é descrito do lado direito (ainda não sei a razão dos lados, apenas aceitei a inspiração dada). Bom, sabendo disso, acho que podemos começar a jogada, temos então a seguinte configuração:



Agora que olhamos para as cartas, gostaria de ajudar um pouco mais com a música que está inspirando minha escrita a partir de agora, aqui. Pronto, agora querido(a) leitor(a) acalme-se e faça uma boa leitura, espero que possamos aprender algo com essa leitura, criticar construtivamente e somarmos novas perspectivas.
Comecemos pelo lado mais importante, claro, o lado espiritual, o lado que guia o material de certa forma. Vejamos que entramos com a Arcana Menor X de Bastões. As décimas arcanas, no geral, simbolizam o fim de um ciclo, cessação de uma atividade, no caso, o fechamento de algo. Já que estamos olhando para a esfera espiritual, podemos abstrair daí que a caminhada espiritual é finda, o que antes havia sido escolhido como um caminho, agora, chega ao seu fim. Contudo, as décimas arcanas não representam fins sem futuros. As décimas arcanas indicam crise, o fim chegou e o pedido de socorro é evidente, age-se, portanto, na busca de um milagre. O fim apenas chegou pois já há um novo começo, já há algo novo em diante, jamais a vida retira de nós um caminho sem antes deixar outros prontos, especialmente em se tratando da esfera espiritual.
Concomitante a esse caminho espiritual que se encerra, nós podemos ver um caminho material que se inicia, curiosamente, por meio de uma união abençoada pelo III de Pentagramas. A harmonia entre o X de Bastões e III de Pentagramas, neste primeiro nível, não poderia ser maior. Espiritualmente, X de Bastões também indica o dueto recepção e ação, algo similar ao que diz III de Pentagramas, uma carta ativa de alto poder criativo indicando um alto investimento de tudo o que se tem ao mundo material, podendo concretizar duas realidades: sucesso ou morte. Aqui, o cenário obscuro demonstra apenas um fato natural chamado incerteza, pois em nenhum momento, em nenhuma iniciativa que se faça, podemos previamente saber se será bem sucessido ou não, há chances para ambos os lados, para o sucesso e para o fracasso. Podemos, então, avançar para o segundo nível espiritual e perceber que nos foi dado um Ás de Bastões, um início, receptivo, com a palma das mãos voltadas para nossos olhos. A família de Bastões simbolizam a energia ativa da criação, que diferente do que denota em nossa cultura, é andrógina, isto é, não possui gênero, não se define por masculino ou feminino. O plano espiritual, portanto, nos dá recursos para caminhar, para criar, para chegar onde desejamos, para construir o que queremos. Há aqui um início dado, como era prenúncio do estágio anterior, em que um fim era posto e um novo começo era prenunciado.
O novo começo, interessantemente, está fortemente ligado ao plano material em que podemos visualizar V de Pentagramas, um número considero problemáticos e trágico por muitos esotéricos. Sabemos que o V é o caminho do meio, reside no intervalo entre o mundo espiritual e o mundo material, é justamente o ponto de mudança, onde se escolhe adaptar ou perecer. Embora a imagem seja deveras triste, as figuras humanas que andam pela neve, doentes e aleijadas, rumam no sentido da sobrevivência. Apesar das dificuldades, o V de Pentagramas nos coloca a trivial ideia de que para sobreviver é necessário se adaptar. É necessário e urge novos investimentos, dando-nos aqui um viés de certeza para o que antes era pura incerteza na fase anterior com III de Pentagramas.
Precisamos fazer um adendo muito importante aqui, o qual não tem um viés de divinação – sabemos todos que eu sou contra a divinação, embora reconheça sua possibilidade e também seus perigos. Observe a caminhada material, vejamos que começamos em III de Pentragamas e avançamos para V de Pentagramas, há um número aqui não exposto, preferencialmente escrito como IIII (nunca IV, por razões históricas de progresso). O IIII de Pentagramas foi o momento em que se passou para executar uma escolha e gerar um resultado. A escolha pode ser de muitas ordens, mas todas presentes no mundo material. Podemos pensar em investimentos que podem dar retorno, podemos pensar em uniões que se forticaram, podemos pensar até mesmo em mudanças de hábitos que permitiram melhores resultados na vida prática cotidiana. Portanto, ao encontrar a arcana V de Pentagramas, estamos diante de um momento e não de um resultado propriamente dito, é o instante em que IIII de Pentagramas é decidido, somando-se um novo Pentagrama e gerando o V de Pentagramas, isto é, o resultado que vem logo a seguir.
No estágio subsequente, com a arcana X de Espadas no plano espiritual, podemos ver um cenário muito similar ao primeiro estágio. No primeiro estágio tíanhos o fim, posto por um novo início, na espera de um milagre e pedindo socorro. Pois bem, o divino sempre vem, eis que ele aparece como um agente menor da Arcana XX (O Julgamento). A Arcana X de Espadas finalmente traz fim, aniquilando de vez e legando-nos a solidão. Mas o que é aniquilado? O que morre? O que é, afinal, deixado para trás? É preciso uma correção aqui, nada pode ser “deixado para traz” ou “morrer” ou “ser aniquilado”. O que de fato acontece é o encerramento de uma etapa criativa, agora, temos a pura recepção de ordem espiritual. Não é surpreendente – com as ressalvas que faço com relação à divinação – que o ano que se inicia é o ano 10 (2+0+1+7 = 10). Ou seja, será o momento para encerrar, por definitivo, etapas da espiritualidade, fechando portas visitadas para então abrir outras portas aos céus.
Novamente, precisamos reforçar, não há um fechamento único, isolamento absoluto, solidão profunda. Há mudanças, há novos caminhos, novas portas e diferentes visões que não tínhamos antes. Isso representa o fluxo de crescimento possível, quando receptivo estamos para a espiritualidade. Pois bem, vejamos como estaremos do lado material. Temos aqui a arcana VI de Bastões, número que na cabala significa Beleza, ou o caminho da Realidade. Eu preciso, agora, abrir um imenso parêntesis para expor meu profundo relacionamento com essa arcana e com todas as arcanas representadas pela manifestação de VI (Os Enamorados, A Torre e os VI de todas as Arcanas Menores).
Qual o motivo de minha relação com essas Arcanas? A relação se deve pela data de nascimento, o dia em que eu nasci soma 6 (soma-se todos os números até que dê um valor entre 1 e 21). Na cabala, seis representa a Beleza, o caminho da compreensão do mundo, em sua totalidade, a capacidade de ver verdadeiramente, compreender o sólido, o material, entender como o mundo funciona. Lembremos, não se dissocia o material do espiritual, por mais que queiramos, por mais que pensemos que não há relação, podemos obliterar nossa percepção da espiritualidade, mas isso não remove de nós nossa verdadeira natureza. Portanto, compreender verdadeiramente o mundo material consiste em perceber a relação intrínseca que há entre os planos (espiritual e material). A Beleza reside em perceber que um (o plano material) é mero espelho do outro (o plano espiritual), miragem que se copia, fraca e debilmente.
Sendo assim, a arcana VI de Bastões consagra realizações materiais, demonstra que o esforço foi agraciado e bem recebido, houve o encontro com o que se buscava (as apostas iniciais dos dois estágios pregressos). Também é necessário notar que do lado espiritual falávamos de fim, de solidão de alguma sorte, ao passo que do lado material parecemos observar o completo oposto. Tal cenário poderia indicar desequilíbrio evidente da alma, um acentuar de um lado da balança e um mitigar de outro. Para melhor compreender o que se passa, vamos então encerrar com a entrada do caminho do meio, isto é, o verdadeiro encontro dos planos espiritual e material.
Nesse instante nos deparamos com o Rei de Espadas, o arquétipo da juventude e da força ativa. Um bom sinal, mas ao mesmo tempo delicado. Na cabala, o Rei de Espadas se encontra posicionado no caminho 6, isto é, o mesmo da Beleza. Indicando, com a precisão cirúrgica da espada, que o arquétipo real conquistou a si mesmo, está agora desprendido, figura como aquele capaz de se desapegar cujo único ponto fraco reside no próprio poder. Impera e urge nesse momento que o equilíbrio seja fundamental, pois nesse instante todas as vontades são realizadas, tudo se pode, tudo se conquista, os desejos são atendidos a qualquer momento, basta uma ordem. E eis o perigo. É preciso cuidado com o que se deseja, é preciso bom senso, equilíbrio e justiça para agir no mundo. Não se pode impor a vontade sem que um dia seja cobrado dela. Portanto, para que esse Rei governe sabiamente, ele terá de usar de seu maior e mais forte recurso, o intelecto imbuído da espiritualidade que ele mesmo veste (o manto azul). Seu reinado será tão próspero quanto for seu equilíbrio entre o mundo espiritual e o material.
Finalmente, meus(inhas) queridos(as), é finda a leitura. Nesse momento, o convite a reflexão é aberto, o convite às críticas construtivas é igualmente aberto e especialmente bem-vindo. Enfim, que possamos todos iniciar esse ano de fins, esse ano de expansão e retração, que sejamos capazes de fazermos nossa parte, da forma que sabemos, da forma que conseguimos, sem culpismo, sem excessivas cobranças, aceitando que somos, reconhecendo nossos pontos fracos, nossos momentos. Somos todos imortais, portanto, haverão muitos momentos que viveremos e com os quais aprenderemos. Que sejamos capazes, um dia, exalar o mais agradável perfume dos Manacás para que os Urutaus que chegam até nós o façam livremente.

Saturday, February 6, 2016

O Diabo revisitado

Olá a todos os meus(inhas) queridos(as) leitores(as) que acompanham esse escritor amador, mas que buscam aqui algumas palavras de sabedoria e, quiçá, conforto. Hoje, trataremos de um tema que não poderemos escapar caso queiramos compreender, verdadeiramente, mais de nós mesmos e do mundo em que habitamos. Para ser bem honesto, vamos revisitá-lo, pois esse texto já foi publicado aqui antes, mas foi cuidadosamente submetido a uma curadoria com melhores energias, afinal, o trabalho por si só já é por demasiado denso, será obrigatório de nossa parte fazer a lição de casa. Antes de avançar, meus(inhas) amados(as), por favor, acalmem seus corações e sigam com o melhor da luz de vocês, pois que até Dante recebeu ajuda de Virgílio para atravessar o inferno.
Há um bom tempo que estive em conexão ímpar com energias sexuais e movimentos da Grande Deusa, um pouco de meu passado Wiccano chamou-me mais fortemente a voltar minhas energias da tríade corpo, mente e espírito em algo mais profano, apenas me restava saber o que haveria de tão profano a ser lançado luz (para descer ao inferno é preciso vibrar como o inferno).
As energias sexuais e os rituais de Hécate me apontavam o caminho rumo ao Demônio (demon = espírito, entidade neutra sem caráter negativo ou positivo), o anjo caído chamava com toda sua luz para uma compreensão maior daquilo que tanto ignoramos e, sobretudo, pouco conhecemos. Compreendamos, primeiro, que ignoramos por razões histórico-sociais as quais nossa cultura atual é construída, pouco conhecemos por reflexo de nosso menosprezo a tal interação profunda. Bom se faz notar, aqui, que muito de nosso medo é fundamentado em nosso real senso de sobrevivência, um mecanismo justo atribuído a nós pelos mecanismos divinos da vida, não podemos nos destruir, criaturas imortais, portanto, frenam-se no medo da destruição, visto que descer ao inferno de nós mesmos é similar a nossa auto-destruição tão temida (por favor, notem aqui o jogo de ilusões, tenham cuidado, estamos falando de coisas perigosas, há muita ilusão em jogo e muitos mecanismos de sabotagem do subconsciente).
Há algo que precisamos conhecer um pouco mais de nós mesmos, trata-se esse algo da imagem da Arcana Maior de número XV, falamos da carta "O Diabo." Mas antes que possamos tratar com mais seriedade dos assuntos que quero abordar, eu gostaria de recomendar alguns livros para leitura e aprofundamento na presente Arcana Maior, são dois: "The Fool's Jorney - A journey to Wisdom: how to become an insightful tarot reader" e outro chamado "The way of Tarot - The spiritual teacher in the Cards," mas transcreverei um trecho do primeiro livro que citei acerca da carta que analisamos hoje:
"Lição: quando nós percebemos a energia negativa dentro de nós e estamos prontos para confrontá-la sem compromissos, nós podemos vencer o Demônio, o qual aparece em nossa psique como os medos internos, inibições e crenças limitantes. Então, nós não precisamos encontrar o Demônio em nossa vida, pois nós fizemos o nosso trabalho interior. A escolha de se tornar livre das correntes do Demônio está em nossas mãos."
Pronto, agora que você já leu esse trecho e já sabe onde procurar por mais informações vou recomendar uma música para que você possa se sintonizar na energia que estou trabalhando agora, a música chama-se The Voyage (ironicamente cantada por um grupo super católico que eu estou amando ouvir). Caso queira, ouça a música e busque a letra aqui. Peço profunda desculpa para os não falantes do inglês, qualquer coisa tente usar o google tradutor, talvez ajude, mas se precisar de uma ajuda maior entre em contato comigo que eu mandarei a letra traduzida para o português com todo o carinho (meu email: manoelvfb@gmail.com).
Agora vamos às explicações. De quais forças estamos falando? Estamos falando das forças materiais, as energias pulsantes do chacra básico, um dos veículos de manifestação de nossos sentimentos materiais na dualidade em que vivemos, um dos mecanismos de suporte de sublimação de energias sexuais. Também falamos do coração, na figura do chacra cardíaco, o qual compreende a região onde os duetos amor e medo, morte e vida, luz e sombras se manifestam profundamente. Há uma grande associação feliz que fazemos com a figura do coração, mas ignoramos completamente os sentimentos mais sombrios que nele residem e, portanto, sabermos sintonizar com esses sentimentos é um passo importante para compreendermos um pouco mais de nós mesmos.
Com essa experiência podemos, inclusive, compreender um pouco mais da sagrada lição espiritual do Tarot com respeito à Arcana Maior O Diabo. Para melhor visualizarmos essa Arcana, vou deixar aqui duas imagens Dela, a saber, a primeira (à esquerda) pertencente ao baralho de Marseille e a segunda (à direita) ao de Waite. Seria interessante que vocês pudessem prestar atenção na imagem de cada carta, admirar ambas, sem medo, compreendendo que essas são criaturas tão divinas quanto o próprio criador. Afinal, se tudo advém da criação, até mesmo as sombras, as trevas, o inferno, são produtos da criação para a mesma causa, a causa final, a regra, isto é, a lei, tudo à perfeição, consulte o capítulo 6 em "O Livro dos Espíritos" aqui.


Observemos, primeiro, a carta de Marseille. Perceba que a figura do diabo possui pares de olhos na cabeça, nos peitos, na barriga e nos joelhos, tal se deve para que possamos melhor ver e encarar os medos. Também podemos perceber que há quatro faces, um para cada par de olhos, distribuídos ao longo do corpo do diabo sendo que três desses rostos colocam a língua para fora designando, assim, a vasta extensão do poder criativo e sexual do diabo. Caso haja dificuldades para perceber, o pênis assume aqui a figura de uma língua cujo rosto é completo com os órgãos sexuais femininos (peitos com olhos), o que deixa explícito a ideia de que a dualidade de gênero assume uma unidade hermafrodita em mensagem clara do poder sexual e material do diabo (válido para ambos os sexos, uma vez que o espírito não possui sexo e anima a ambos).
Observemos, igualmente, que o corpo do diabo é azul, significando aqui a característica espiritual do diabo e sua simbologia mental, tratando-se portanto de uma entidade de caráter predominantemente divino. A divindade é coroada com chifres e, essa divindade, coroa outros seres indicando a ligação passional profunda nas criaturas encarnadas e presas aos ditames mais primitivos da matéria, observe que as duas criaturas abaixo estão presas por uma corda no pescoço.
É bom observar que a corda (ou corrente) que prende as figuras humanas, logo abaixo do púlpito em que se encontra o diabo (o diabo é aqui um ser divino, por isso em um púlpito), estão presas pelo pescoço, indicando assim que a manifestação da verdadeira identidade dessas criaturas é recriminada, sufocada e aprisionada sem a licença da real manifestação da luz divina deles mesmos, um problema sério que vai contra as leis divinas como exposto pelo professor Rivail no livro "O Livro dos Espíritos" capítulo 10 aqui.
De maneira geral podemos compreender esse aparente cenário dantesco com os seguintes dizeres do próprio diabo (extraído de "The way of Tarot - The spiritual teacher in the Cards"):
“Eu acendo a tocha que traz ordem às trevas. Em uma escada de obsedianas eu crio o meu caminho aos pés do criador para apresentá-lo o poder da transformação como uma oferenda. Sim: depois da impermanência divina eu luto para congelar os instintos, para fixar em um canto como uma escultura fluorescente. Eu ilumino com minha consciência e agarro isso, até que isso queime em um novo trabalho divino, o universo infinito um labirinto infinito que escorre por entre minhas garras, uma caça que escapa por entre meus dentes, traços que desaparecem como um súbito perfume.
“E aqui eu permaneço, tentando segundo após segundo parar o fluxo do tempo. Assim é o inferno: amor absoluto versus o trabalho divino que se vai. Ele [Deus] é o artista-invisível, impensável, intangível, intocável. Eu [O Diabo], eu sou outro artista: fixo, invariável, obscuro, opaco, denso, uma tocha que queima eternamente com fogo imóvel. Sou eu quem deseja engolir a eternidade, essa glória imponderável, agarrando isso ao centro de minha barriga e gerando isso tal como o pântano que se constroi de pedaços para que emerja uma haste em cujo fim se abre a flor de lótus, na qual o diamante está brilhando. Assim, dilacerando minhas entranhas, eu quero ser a suprema Virgem que origina Deus e agarra-O em uma cruz, só então ele permanecerá para a eternidade aqui comigo, sempre, nunca mudando, permanente permanência.”
Observe bem meus(inhas) amados(as) leitores(as) que o diabo figura aqui aquele que gera ordem mesmo no inferno, aquele quem promoverá a reorganização de um estado de absoluto sofrimento e estagnação a um estado de ordem e movimento. Portanto, como nos textos indicados que vocês poderão ler, vocês poderão perceber o caráter divino do diabo, sendo ele uma parte do uno que foi dualizado.
A encarnação nos confere aqui, portanto, nossa conexão abrasiva e curadora com as nossas trevas, nossas inclinações criativas e sexuais, isto é, nossa interação mais direta e sólida com aquilo que é parte de nós e que, no entanto, não deve ser negado, ignorado ou temido, mas sim deve ser tratado com todo o cuidado e devido respeito. É preciso compreender aqui que não tratamos de uma apologia ou uma escusa à ação funesta e maligna, mas sim um movimento de aceitação e cura em um abraço cósmico e maravilhoso entre aquilo que compreendemos por luz e sombras (ainda que ilusões, essas são tão reais quanto a verdade da ilusão, fique atento às sabotagens mentais).
Agora, para que não delonguemos mais nosso texto, recomendo que você revise um texto que fará a leitura da carta segundo a visão de Waite, aqui, esse foi meu trabalho há alguns anos atrás.
Pronto meus(inhas) amados(as), creio que consegui chegar ao meu objetivo, o trabalho de curadoria do texto. Espero que vocês possam absorver um pouco mais adequadamente o que foi escrito, afinal, a palavra não é suficiente, precisamos de muitos mais recursos que, por hora, carecemos de compreensão. Sigam em paz meus(inhas) amados(as), saibam sempre que com o dever de casa feito, ascendemos.

Sunday, January 31, 2016

Ás de Pentagramas

Olá meus amados(as) Urutaus! Queridos(as) leitores(as) que aqui se fazem presente mais uma vez, nessas humildes linhas que vertem algumas palavras da sabedoria antiga, misturadas com os sentimentos e as experiências desse viajante que aqui escreve.
Preciso desabafar e dizer que tem sido uma tarefa um tanto complicada o desabrochar da escrita para as Arcanas Menores, mas hoje chegaremos ao fim do quadrante, finalmente iremos abordar o Ás de Pentagramas (ou Ás de Ouros, na tradução oficial). Irei sempre utilizar Ás de Pentagramas, por ser a forma com a qual estou habituado a utilizar e a qual, igualmente, permite-me maior acesso ao que eu devo prestar atenção, talvez isso sirva de ajuda para vocês.
Estamos então, munidos da energia das águas de Aquário, com o Ás de Copas tivemos acesso ao centro das emoções, o cerne dos sentimentos e a ímpar capacidade feminina da criação. Depois, estagiamos um tempo na esfera do sexo com o fogo de Leão, compreendendo com o Ás de Bastões que as energias sexuais representam a divina fonte do empenho criativo que há em nós, através do qual devemos fixar sólida base para ascender às esferas superiores. Por fim, nosso último encontro foi com o Ás de Espadas, ou a violenta e poderosa ação dos ventos de Escorpião, o elemento da capacidade cognitiva, a inteligência e a consciência suprema.
Agora chegamos ao fim dessa jornada, podemos olhar para trás e ver Aquário, Leão e Escorpião como templos, como signos de grandiosidade e orgulho. Seus símbolos Copas, Bastões e Espadas são eretos, fálicos, fecundos e ascendem aos céus em peculiar forma a demonstrar que o espírito é original na água, ativo no fogo e criativo no ar. Singularmente, nosso último encontro se dá com o Pentagrama, o símbolo da união entre os cinco elementos, quatro muito claros aos olhos dos não iniciados e o quinto apenas visível para os que sabem ver.
Água, fogo, ar e finalmente terra constituem os quatro elementos que fazem parte desse mundo, são símbolos ou metáforas para padrões observados pelos antigos. O Ás de Pentagramas é regido pelo signo de Touro, animal terrestre assim como o Leão, mas cuja alimentação é exclusivamente herbívora, ou seja, é um animal que se alimenta diretamente da terra, aquele que precisa se curvar para obter seu sustento, representando o símbolo da humildade.
Mas qual então seria o quinto elemento? Aos corações atentos, foi possível perceber que o quinto elemento é o espírito! O Ás de Pentagramas une assim cinco elementos para nos mostrar que o mundo é a união do material e do imaterial e que, ao mesmo tempo, é importante estar no mundo, a humildade é o caminho base para o espírito, esse mesmo deve compreender que ser material é importante, mas deve evitar pertencer ao material.
É importante para o espírito estar entre os elementos neste mundo, mas não é interessante que o espírito permaneça na matéria ou que materialize ao ponto de perder a percepção de sua própria natureza imaterial. O Ás de Pentagramas nos deixa claro um outro detalhe fundamental quanto a sua arquitetura.
Uma taça, uma espada e um bastão podem parar em pé quando jogados em terra firme, mas uma medalha cairá e se deitará, isto é, o Ás de Pentagramas não representa grandeza, apesar de ser da cor do ouro, isso apenas deixa claro que a verdadeira preciosidade reside na humildade, na simplicidade e na capacidade de perceber a natureza das coisas e assim conduzir o caminho meditativo no encontro de si mesmo.
Podemos ainda fazer uma referência muito forte ao Budismo em nossa visão da medalha dourada jogada ao chão. Observe o cenário logo abaixo da feminina mão que segura o Pentagrama, trata-se de um jardim, com flores simples, um ambiente humilde, mas bem cuidado, assim como os Zen Budistas fazem com seus jardins. Cuidar do jardim é tradição que se refere à melhoria de nós mesmos o que acarreta na melhoria de nosso trabalho, nossa família, nossas cidades e etc. Cuidar do jardim é também compreender a natureza búdica em tudo, é ser capaz de seguir a máxima de um Bodhisatva: “Eu não quero nada pra mim que não seja nada para o outro.”
Podemos ainda estagiar um pouco no Budismo Tibetano, através do mantra “Om mani padme hum” que significa “Oh Diamante no Lótus” e que muito bem representa a consciência pura e sem ego do Buda, isto é, a verdadeira essência do espírito, a vacuidade. Sobretudo, ao fundo podemos ver um muro verde e que discretamente nos abre uma porta rumo ao desconhecido, rumo às montanhas, rumo à lição Búdica da impermanência.
Temos aqui, finalmente, a junção de todos os elementos trabalhando harmonicamente com o espírito no sagrado caminho do descobrimento de si mesmo. Eis a verdade do Tarot. Os segredos podem ser por ele revelados, mas é o espírito quem fará o trajeto.
Enfim meus(inhas) amados(as), espero em breve começar a escrever um pouco das demais cartas que cada quadrante guarda e ao final apresentar as personagens reais de cada quadrante Reis, Rainhas, Pagens e Cavaleiros. Por enquanto, fico feliz de poder escrever após meditar por um tempo e recitar calmamente o mantra “Om mani padme hum.” Recomendo o mesmo para vocês, todos os que buscam no Tarot algum conhecimento, não encontrarão de outra forma que não seja vivendo-os.
“Cada pensamento verdadeiro corresponde à Graça Divina nos céus e um bom trabalho na Terra.” Eliphas Levi.