Ouvir
está um pouco mais além de apenas assimilar um som. Ouve-se com os olhos,
ouve-se com o coração, ouve-se com o toque, ouve-se com gosto. Ouvimos ao outro
o que dele queremos ouvir, ouvimos de nós o que para os outros nos fazemos.
Ouvir,
sim, está um pouco mais além de apenas perceber um ruído, reconhecer um barulho
ou apenas reconhecer uma harmonia sonora, ouvir não é apenas ser capaz de fazer
vibrações moleculares se tornarem informações.
Ouvir
está além do audível, está no invisível, no por trás das palavras, no profundo
do coração, no cotidiano dos gestos, no olhar perfuntório. Ouvir, não é apenas
o ato de escutar, ouvir é ler, ler o pequeno ruído dos lábios, as trêmulas mãos
que se escondem, a garganta que vibra no tom de cada vogal como uma nota na tablatura
musical.
Ouvir
é, claro, fluir, ir, deixar-se. Ouve-se com o coração, ouve-se com a mente,
ouve-se holisticamente o ser. Ouve-se o que não se vê, ouve-se o que não se é
dito, ouve-se o que não se é tão claramente descrito. Ouve-se, pois todos se
fazem escutar, pois todos emanam o sentir, todos expressam a real matéria do qual
constitui suas emoções, ouve-se pois com todos estão os fundamentos do divino,
ouve-se, assim, o divino que em tudo está.
O
divino, matéria básica dos sentimentos e pensamentos, essas mesmas, matérias
básicas para as emoções e razões, essas mesmas matérias básicas para as formas.
As formas não falam, mas resumem, latentes, o divino. O divino que na forma
nada é, mas que na forma está, por tal audível.
Audível são os seres, eles que se fazem ouvir, ouvir portanto é um verbo tão doce quanto importante. Ouvir, não, ouvir não é algo que se faz ouvindo somente. Ouvir, sim, ouvir é algo que se faz com os olhos, com o coração, com a mente, com harmonia de todos aqueles. Ouvimos e ouvimo-nos.
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