Sunday, May 25, 2014

Os ouvidos que ouvem

Ouvir está um pouco mais além de apenas assimilar um som. Ouve-se com os olhos, ouve-se com o coração, ouve-se com o toque, ouve-se com gosto. Ouvimos ao outro o que dele queremos ouvir, ouvimos de nós o que para os outros nos fazemos.
Ouvir, sim, está um pouco mais além de apenas perceber um ruído, reconhecer um barulho ou apenas reconhecer uma harmonia sonora, ouvir não é apenas ser capaz de fazer vibrações moleculares se tornarem informações.
Ouvir está além do audível, está no invisível, no por trás das palavras, no profundo do coração, no cotidiano dos gestos, no olhar perfuntório. Ouvir, não é apenas o ato de escutar, ouvir é ler, ler o pequeno ruído dos lábios, as trêmulas mãos que se escondem, a garganta que vibra no tom de cada vogal como uma nota na tablatura musical.
Ouvir é, claro, fluir, ir, deixar-se. Ouve-se com o coração, ouve-se com a mente, ouve-se holisticamente o ser. Ouve-se o que não se vê, ouve-se o que não se é dito, ouve-se o que não se é tão claramente descrito. Ouve-se, pois todos se fazem escutar, pois todos emanam o sentir, todos expressam a real matéria do qual constitui suas emoções, ouve-se pois com todos estão os fundamentos do divino, ouve-se, assim, o divino que em tudo está.
O divino, matéria básica dos sentimentos e pensamentos, essas mesmas, matérias básicas para as emoções e razões, essas mesmas matérias básicas para as formas. As formas não falam, mas resumem, latentes, o divino. O divino que na forma nada é, mas que na forma está, por tal audível.
Audível são os seres, eles que se fazem ouvir, ouvir portanto é um verbo tão doce quanto importante. Ouvir, não, ouvir não é algo que se faz ouvindo somente. Ouvir, sim, ouvir é algo que se faz com os olhos, com o coração, com a mente, com harmonia de todos aqueles. Ouvimos e ouvimo-nos.



No comments:

Post a Comment